E é assim a chamada da revista Dobras, de cara já deixando bem claro à que veio. Na verdade, conheço a revista há pouco tempo –infelizmente – mas desde então achei a idéia, o projeto editorial e todo o conjunto da obra uma coisa tão diferente e inteligente que não pude parar de ler. A Dobras apareceu no meu caminho de uma maneira um tanto quanto especial já que tive a sorte de conhecer a Mônica Moura – que além de ser uma das responsáveis pela produção da revista é colunista fixa da Dobras – esse semestre na UNESP, e mais sorte ainda dela coordenar o grupo de Estudos de Moda e ser minha orientadora no projeto de pesquisa que estou desenvolvendo. E através dela não apenas conheci a revista como nesse exato instante estou com duas edições bem ao meu lado, emprestadas pela Mônica e que estão sendo devoradas no feriado.
Convite de lançamento da Dobras, em 2007
Sobre a Dobras: Desde outubro de 2007, quando teve sua primeira edição publicada, a revista procura levar ao público textos que analisem o envolvimento da Moda em nossa contemporaneidade. Para isso, o universo abarcado pela revista é bem grande: Design, Figurino, Inter-Relações, Fotografia, Mercado, Estilo, Histórias; uma infinidade de entrelaçamentos que fazem parte de nossos tempos e que tem relação, direta ou indireta, com a Moda.
A revista é quadrimensal, produzida pela editora Estação das Letras e Cores e tem um quadro de colunistas fixos, bem como uma área de artigos nas quais a cada edição novas pessoas contribuem. As pessoas que escrevem para a Dobras são pesquisadores do mais alto nível, que através de seus textos pretendem disseminar o estudo da Moda no Brasil – que sabemos, ainda é tão pouco.
A coordenação editorial da revista fica por conta de Kathia Castilho e Tula Fyskatoris, e seu preço é R$29,00.
Tenho em mãos a primeira edição e a edição de aniversário de 1 ano da revista, onde nessa última a ilustração da capa foi feita pelo Ronaldo Fraga.
Revista de aniversário e primeira edição da Dobras
O que mais me encanta na Dobras, além desse olhar analítico que ela traz, é mostrar que é possível sim fazer revistas – e principalmente de Moda – que saiam dos padrões convencionais do mercado. Obviamente, a revista tem um público mais específico do que as revistas de Moda em geral, mas mesmo assim é importante ver uma revista que não leva nenhum nome de marca à sua frente conseguir um espaço de destaque dentro do cenário editorial brasileiro. Melhor ainda é mostrar um olhar amplo sobre a Moda, o que eu sinceramente sinto muita falta nas revistas. E isso me remete a outras coisas, aquela sensação desgastante que às vezes tenho de folhear uma revista e me sentir visualizando um catálogo, sabe? Uma coisa pronta, mastigada que não faz você ter maiores reflexões sobre o assunto. Não são todas, claro, e quem me conhece sabe que eu adoro revistas de Moda dos mais variados projetos editorias, mas ao ler revistas como a Dobras e a Vogue de anos atrás, sinto aquela sensação que te tira do eixo, que faz você pensar além do que está ali exposto em papel. Assim como a Moda, são em projetos desse tipo que encontro aquela conceito de ‘é meio, e não fim’.
Isso me faz pensar que às vezes a Moda acaba caindo num conceito triste de centralização, ou seja, para falar de Moda só devemos falar de roupas, fotos e sapatos. Bom, a Moda está no ar, na música, nas convenções sociais, nas transformações econômicas, enfim, a Moda é um olho de caleidoscópio e é imensamente gratificante quando você descobre revistas que a tratem assim. Porque acho que isso não é uma função restrita aos livros, entendem?
Tudo bem, você pode até achar que a pessoa vai comprar uma revista apenas para ‘ver’, mas ela não está restrita apenas a isso, ao contrário, consumidor inteligente é aquele que sabe ler nas entrelinhas, é aquele que analisa um editorial com olhos atentos, aquele que está olhando o preço de uma nova Balenciaga, mas também está de olho numa transação comercial que afetará pessoas, padrões e costumes bem além do que os logísticos. É ter um olho no peixe e outro no gato.
E gostar de arte, música, cinema, procurar ter um olhar críticos sobre as coisas, pensar mais, não ler tudo que enxerga pela frente e tomar como certo… Fazer um caldeirão de misturas para chegar no produto final: Moda!