Um passo de cada vez

Diferente da maioria do meus amigos de escola, a minha época do ensino médio não foi uma fase difícil de escolhas profissionais. Enquanto quase todos quebravam a cabeça pra descobrir qual o bendito curso de vestibular queriam prestar, eu já tinha bem definido em mente que queria jornalismo. Apesar de tudo isso, dessa certeza que há muito tempo me acompanhava, sentia uma certa angústia ao saber que uma fase estava acabando e outra, necessariamente, começando. Era um degrau a mais que eu iria subir, fosse ele em São Paulo ou em uma cidade interiorana, com gente que entraria pra sempre na minha vida e com tantas outras que eu não queria deixar pra trás.

Acho que todo mundo passou por isso. Pode não ter entrado em crise, não ter chorado de desespero por cada teste vocacional que fez ou por cada nova palestra que assistiu e que embaralhou ainda mais sua cabeça confusa. Pode não ter rolado tudo isso, mas garanto que em algum momento desse caminho, nem que uma única vez, todo mundo se perguntou o que esperar do futuro.

A gente traça metas, cria expectativas, tenta prever como será cada novo passo, mas em uma época onde tudo isso se mistura a difícil fase da adolescência, as coisas ganham um significado ainda maior, com o triplo de angústias e problemas.

Uma boa dose desse nervosismo vem da própria família, da própria escola. É óbvio que eles estão aí pra apoiar, pra mostrar que sim, não dá pra escolher uma profissão no cara ou coroa, mas quase sempre essa época é pintada de uma maneira tão apocalíptica que a gente cria mais medo e insegurança desse período do que das próprias escolhas que a gente tem que fazer.

Uns bons anos depois, agora é a faculdade quem dá um tchau ainda meio acanhado pra mim. Sei que ainda faltam longos meses até tudo acabar. Longos porque nesses meses tem a produção do TCC, que traz, na mesma medida, uma boa dose de responsabilidade e controle do seu tempo com a sensação de se estar produzindo algo incrível. Longos porque eu não vejo a hora de me formar, com toda a sinceridade que esta que vos escreve tem. Longos e ironicamente curtos também, porque muita gente que se revelou querida ao longo desses anos também parte agora para outros lugares. E foi exatamente aí, quando tentei pensar com calma e sensatez nisso tudo que estou vivendo, que tive a visão de mim mesma há cinco anos, no último dia de aula do terceiro colegial.

O lugar mudou, as pessoas mudaram, a minha certeza do que quero pro meu futuro ainda é uma certeza bem traçada faz tempo, mas percebi que essa fase de agora, de sair da faculdade e dizer “sou formada”, tem o mesmo gosto (ou talvez até mais apurado) de desconfiança que aquela outra fase. As pessoas costumam falar tanto da escolha do curso na vestibular, mas e a escolha de vida, a escolha de carreira que a gente faz quando a faculdade termina?

Já fiz minhas listas, já fiz meus planos, já tenho tudo muito bem traçado aqui em mente, assim como tinha naquela época, mas assim como naquela época, hoje eu também sinto um misto de ansiedade e frio na barriga pelo desconhecido. Pelo próximo degrau dessa longa escada.

Ps: Obrigada a Babi pelas conversas sempre tão reconfortantes.